segunda-feira, julho 18, 2005: Era uma vez um Arrastão
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Chegados a este ponto, somos obrigados a perguntar afinal onde estão o "terror" e o "pânico"? Na praia de Carcavelos ou nas televisões, rádios e jornais? Onde está o "arrastão"? Teremos, afinal, sido enganados e manipulados pelos media?
É triste dizê-lo, mas a verdade é que, um mês depois, continuamos a não saber. Certamente que algo se passou e que terá havido, pelo menos, alguns focos de medo e até de pânico, numa praia que, em começo de verão e fim-de-semana prolongado, se encontrava sobrelotada, com gente de todas as cores.
A ideia de uma operação concertada dos media, no sentido de manipular e fabricar o acontecimento não faz qualquer sentido. Mas que praticamente todos afinaram pelo mesmo diapasão é indesmentível. Logo há um "reflexo" ou uma "lógica" mediática que leva os distintos meios a formatar, etiquetar e apresentar o acontecimento de modo idêntico, mesmo que os factos disponíveis não permitam fazê-lo. O mimetismo e a concorrência económica não bastam como factores explicativos. A agenda do dia das grandes redacções tinha um assunto considerado pouco interessante do ponto de vista jornalístico - as cerimónias do 10 de Junho. Mas isso só em parte levaria a enfatizar distúrbios numa praia dos arredores da capital. Creio que a indagação deverá ser feita, considerando entre os jornalistas e as percepções do público relativamente aos problemas da segurança e da criminalidade e aos factores causais desses problemas. Há aqui muito trabalho para sociólogos e para estudiosos do jornalismo.
O que se me afigura, todavia, mais grave e injustificável, em todo este caso, nem é que os media tenham feito o que fizeram, no dia 10 e nos dias seguintes. Se a polícia deu informação à agência Lusa e se os media tomaram por boa a informação destas duas instituições, apoiada que estava numas fotos colhidas por fonte não independente, nós podemos admitir que tenham, num primeiro tempo, "metido a pata na poça". Mas já é inaceitável que não tenham começado, de imediato, e perante ocorrência de tamanhas proporções, a bater porta a porta, a interrogar fontes diversas, a recolher depoimentos, a reconstituir os factos. Esse trabalho de casa seria imprescindível em qualquer circunstância se confirmasse o que havia sido dito, permitiria, depois, ir investigar os bastidores do arrastão; se não confirmasse, teria de averiguar igualmente os bastidores
do embuste. Em qualquer dos casos, faltou-nos o essencial e os media prestaram-nos, assim, um deplorável serviço.
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Jornal de Noticias
Era uma vez um Arrastão
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