quinta-feira, junho 23, 2005: É já a seguir! É que é já a seguir!

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E, no entanto, são apenas slogans, desenhados por equipas de criativos, essencialmente concentrados em responder às exigências de um cliente. Só que, mais do que vender um produto, essas frases entraram na linguagem quotidiana. Dessa apropriação resulta que elas são transferidas e livremente usadas nos contextos do dia-a-dia. Em tempos de crise, um dito popular irónico, usado pela publicidade, como o É já a seguir! transforma-se numa pergunta inquieta sobre o amanhã. O futuro é capaz de não ser já a seguir. E o Eles falam, falam, falam... de Ricardo Araújo Pereira deixou de ser apenas a frase-chave de um personagem do Gato Fedorento e tornou-se um utensílio para criticar a política e a inércia nacional.

Mas porque é que estas frases são tão poderosas? Talvez apenas por mérito criativo os dois anúncios fazem parte de uma mesma campanha que saiu certeira. Mas o interessante é essas frases ultrapassarem a intenção e o objectivo com que foram pensadas, é elas tornarem-se outra coisa. Expressões que, por serem reconhecidas por qualquer um podem ser usadas para falar sobre tudo. No passado, era isso que distinguia o humor de Herman do dos outros: mesmo se tivesse menos audiência, era falado.

A publicidade ganhou assim a função de tornar manifestas frustrações sociais submersas. O slogan publicitário substituiu o slogan político?

Miguel Gaspar
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